quinta-feira, 26 de novembro de 2009

LINGUAGEM

“Ao avistar a guarnição da polícia o elemento empreendeu fuga em desabalada carreira, pulando muros e invadindo quintais. Depois o meliante adentrou num matagal, tomando rumo ignorado”. Se você acompanha programas policias deve ter percebido que o texto acima faz parte da linguagem simbólica das policiais Militar e Civil, um pouco mais da primeira instituição.

O “mundo policial” tem alguns vocábulos entendidos apenas por àqueles que fazem parte da instituição. Na maioria das vezes, esses comandos ou gírias estabelecem níveis de comunicação entre os membros da corporação. O objetivo é manter o conteúdo de mensagens importantes, restritas a seus membros, evitando o vazamento desnecessário de operações da força para mãos erradas.

O jornalista policial acaba se envolvendo nessa linguagem simbólica e aprendendo seus significados. O repórter-foca (iniciante) é capaz de não compreender uma ocorrência policial registrada numa delegacia qualquer. É comum o repórter policial encontrar termos como mocó (esconderijo); meliante (bandido); invólucro (papelote de droga); minuciosa (abordagem completa no suspeito); cão (revólver); chuço (policiais escrevem chuncho – arma artesanal pontiaguda, geralmente fabricada no interior dos presídios); tereza (corda feita com lençóis, geralmente usada para fuga em presidiários); cavalo doido (vários presos correndo ao mesmo tempo rumo ao muro para tentar fuga das unidades prisionais); x-9 (delator, o chamado dedo-duro); arma da casa (emboscada). Oxi (cocaína oxidada, pura); RP (Rádio Patrtulha); positivo/operante (ok durante a operação). Isso sem incluir os códigos usados somente entre os militares.

Pois bem. Imagine você um repórter iniciante chegando à delegacia logo pela manhã se depara com uma ocorrência onde o policial narrou: “A guarnição RP 0000 em patrulhamento de rotina pela zona Leste de Porto Velho deparou-se com dois elementos em atitudes suspeitas, saindo de um mocó. Em revista minuciosa aos meliantes, foram encontrados 30 invólucros de oxi, dois chuços e um revólver. Os acusados confessaram que fugiram recentemente do presídio Urso Branco. Na fuga usaram um tereza e o revólver usariam para armar a casa de um rival. Os conduzidos foram encaminhados para a delegacia, para que o delegado tome as medidas de praxe.

Para o perfeito entendimento da ocorrência o repórter precisaria perguntar alguns termos aos policiais. O problema – na visão de especialistas – é que repórteres policiais, principalmente os que trabalham na TV e rádio estão incorporando essa linguagem nas reportagens, usando os mesmos termos aos leitores/espectadores/ouvintes. É comum alguns repórteres produzindo matéria chamando o suspeito de meliante; dizendo que os acusados presos num mocó no bairro das Quebradas.

O delegado Márcio Mendes Moraes, titular da Delegacia de Homicídios, disse que, a maioria das gírias é criada por bandidos, para despistar a ação da polícia. A gíria mais recente criada no meio criminal é a “Cega”. De acordo com o contexto da história a gíria pode ter um significado diferente, mas na maioria das vezes o seu uso é para desmentir algo. Por exemplo: quando um crime é atribuído a um suspeito e este suspeito é questionado sobre o crime, logo ele responde: “é cega”, referindo-se que a informação repassada para a polícia é mentirosa.

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